No capítulo 3 do Evangelho de Marcos, é nos dito que Jesus, iniciando seu ministério, resolve separar 12 homens que seriam seus discípulos e também sucessores, incumbidos de levar sua mensagem a todo o mundo conhecido após a sua ressureição e a inauguração da era da Igreja na terra.
Cristo escolheu homens de vários segmentos da sociedade judaica, com diversos históricos e contextos de vida. Dentre todos eles, vamos destacar dois que realçam uma situação que deve ter sido no mínimo curioso de acompanhar, principalmente no início da chamada desses homens.
Falo de Levi, o coletor de impostos e Simão, porém, não o Simão Pedro, e sim Simão o Cananita, também conhecido como Simão, o Zelote.
Levi, também conhecido como Mateus, que mais tarde também seria o autor do Evangelho homônimo, trabalhava na coletoria de impostos e era aliado de Roma na abjeta função de extorquir seu próprio povo ao mesmo tempo em que enriquecia sobremaneira. Os coletores de impostos eram tidos como traidores da Nação, de Deus e do povo. Eram excluídos das Sinagogas e hostilizados em público por traírem o próprio sangue e serem subservientes a um governo pagão. Mas recebiam muito bem para isso.
Do outro lado, temos Simão, o Zelote. Simão era membro de uma seita Judaica conhecida como Zelotes. Os zelotes eram um movimento nacionalista que não aceitava a dominação de um Império pagão e realizava frequentes investidas contra alvos estratégicos de Roma na luta para libertar Israel do jugo imperial e finalmente estabelecer o reino messiânico prometido nas escrituras judaicas. Também incitavam o povo a não pagar impostos ao Império e pregavam morte a todos os romanos.
Os evangelhos focam na encarnação, ministério, morte e ressurreição do Filho de Deus entre os homens e apesar de relatar eventuais brigas de egos entre os apóstolos, como no episódio em que eles queriam saber quem será o maior entre eles quando finalmente for estabelecido o Reino de Cristo, Mateus 18. 1-4, ficaria inviável contar todos os detalhes.
Mas podemos imaginar como foram os primeiros encontros entre dois homens que no passado eram inimigos naturais, por estarem em extremos opostos de suas posições políticas e ideológicas, e que agora viam-se saindo juntos em missão para aprenderem junto aos pés do homem que mudaria suas vidas para sempre.
Quantas vezes coçou a mão de Simão na bainha da espada?
Quantas vezes Mateus dormiu com os “olhos abertos”?
Só podemos imaginar, porém, o que é fato mesmo é que ambos foram transformados pela mensagem de Cristo, e tornaram-se porta vozes impetuosos da maior boa nova de todos os tempos.
Tiveram seus olhos abertos e puderam ver o quanto estavam desperdiçando suas vidas em coisas que até tinham aparência de valor perante os homens, mas que para a eternidade era totalmente vãs.
Suas ideologias e visões de mundo tornaram-se totalmente insignificantes diante da presença do Deus vivo que lhes era apresentado em Cristo.
Mateus deixou de lado a avareza e toda a cobiça por riquezas que perecem e não preenchem o vazio da alma e das quais não poderia levar sequer uma dracma quando partisse desse mundo, e passou a juntar tesouro nos céus, onde nem a traça e nem a ferrugem consomem (Mateus 6:20).
E Simão desistiu de construir um reino na terra onde a história mostra que Impérios são destruídos, substituídos e passam como as nuvens, para fazer parte de um Reino que jamais será destruído. ( Daniel 2:44).
Os Zelotes foram esmagados pelas Legiões Romanas na Guerra que destruiu Jerusalém e o Templo em 70 dc. encurralados em um cerco militar na cidade de Masada, cometeram suicídio em massa. Morreram sem o sonhado reino e sem esperança.
Simão, provavelmente estaria ali se não tivesse sido resgatado e chamado pelo Salvador.
E Mateus seria fadado a levar uma vida de avareza, repúdio e consciência inquieta, desprovida de laços afetivos sinceros (ninguém confiava em um coletor de impostos) e amaldiçoado pelo seu próprio povo.
Mas ambos escolheram combater o bom combate, acabaram a carreira e guardaram a fé. Suas coroas estão bem guardadas pelo Senhor, o justo juiz, o qual os dará naquele dia, e não somente a eles, mas a todos que amarem a sua vinda. ( 2 Timóteo 4. 7-8).