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Os perigos da “Felicidade” tóxica.

Por: Fábio Costa.

Em artigo publicado no site jornalístico alemão, Die Welt, o jornalista Philipp Nagels destacou o trabalho de pesquisadores e psicólogos em um projeto apelidado de “positividade tóxica”. Trata-se da observação da constante necessidade de demonstrar felicidade e prosperidade nas redes sociais. No mesmo site, a também jornalista Suria Reiche explica:

“No Instagran e semelhantes, os usuários mostram predominantemente só o que é belo e especial. Por trás disso existe uma tendência humana natural. No entanto, esse comportamento pode causar efeito negativos sobre o corpo e alma – tanto para os autores das postagens como para quem as vê”.

Os resultados da pesquisa estão bem sintetizados na conclusão da psicóloga alemã Doris Röschmann, segundo a qual: “ a longo prazo, sempre fazer de conta que eu estou bem-humorado é cansativo e insalubre. Agindo assim, encubro algo dentro de mim e isso custa energia psíquica” …  e emocional. As consequências podem ser insônia e depressão. A constante cobrança por felicidade pode nos tornar infelizes.

Seria mentir a si mesmo e excluir os fatos negativos da vida, passando a acreditar que cometemos algum erro quando não nos sentimos felizes. As implicações também acometem aquele que nos observa, pois este muitas vezes pode ficar com a impressão de que sua vida é tediosa, de que a “grama do vizinho é sempre mais verde” o que o faz sentir-se consciente ou inconscientemente inferior por não ter os mesmos sentimentos positivos e ensolarados em sua vida. Essa frustração frequentemente desencadeia comportamento revoltoso, agressivo e também depressão.

Entenda, não há nada de mais em compartilhar momentos prazerosos nas redes sociais, o alerta fica apenas para os casos excessivos e que beiram a obsessão. E tais casos são mais comuns do que imaginamos e crescem exponencialmente com a pressão social por sucesso e ostentação presente na cultura da atualidade.  

Esse é um perigo que todos nós, quer percebamos ou não, estamos sujeitos, uns em maior, outros em menor grau. Ninguém está escape de passar a preocupar-se mais com a impressão que vai passar ao público do que viver a situação em si. Em dar mais importância em como vai ficar a selfie no restaurante do que saborear a comida e desfrutar da companhia no almoço ou jantar. Tudo isso resultado de viver em um mundo que valoriza mais a aparência do que a essência, um mundo em que o ter é mais importante do que o ser. Tenho consciência de que acabei de citar um clichê batidíssimo e gostaria de ser mais original, mas infelizmente é um fato do qual não podemos nos livrar, pois isso tem se mostrado como retrato fiel da realidade em nossos dias.

Boa parte de nós está adoecendo na tentativa insana de parecer feliz aos outros a qualquer custo, mesmo que a tal felicidade seja de papel. Outra parte está sendo afetada porque acha que esta bem-aventurança constante, por alguma razão não foi estendida a ela, gerando assim pessoas frustradas e reféns da amargura.

Por outro lado, não acho que a solução para isso seja que todas as pessoas passem a publicar seus problemas e expor suas dificuldades e dramas em redes sociais só para mostrar para os observadores que ninguém possui uma vida perfeita a fim de que possam sentir-se melhores.

Por certo que, longe de resolver os problemas, aquele que expõe seus sofrimentos nas redes, frequentemente acaba agravando-os.

Mas resolvi fazer a minha parte da seguinte maneira: Em primeiro lugar, eu suponho que há muita gente nas redes com a concepção equivocada de que a vida dos outros é mais interessante do que a sua e que isso jamais mudará. Em segundo lugar, devo dizer que, já faz alguns meses que resolvi imitar a oração do teólogo e pastor Francis Schaeffer (1912-1984).

Schaeffer costumava orar para que fossem enviadas a ele as pessoas em que Deus já tinha começado a trabalhar no coração. E isso produziu muito fruto. Percebi que Deus tem se inclinado a atender meu pedido nesse quesito, assim como atendeu Schaeffer e atenderá qualquer um que tenha o mesmo desejo.

Obviamente que não posso responder pelas outras pessoas, não posso nem mesmo responder pelos outros cristãos, portanto falarei por mim mesmo, na esperança que isso de alguma forma possa ajudar alguém.

No que tange a mim, os momentos em família e descontração nas redes sociais são autênticos. Não são forjados para passar uma falsa impressão de felicidade ou até mesmo impressionar alguém. Porém é necessário também dizer que nossas vidas não consistem somente de momentos assim. Enfrentamos muitas dificuldades. Alguém pode querer interromper nesse momento e dizer que isso é uma coisa óbvia. Mas talvez essa pessoa não tenha percebido que vivemos dias em que o que mais acontece é a negação do óbvio. Sim, somos felizes, e estou satisfeito com a minha vida, e alguns desses momentos de felicidade autêntica são registrados e publicados nas redes sociais, porém enfrentamos muitas dificuldades, obstáculos e tribulações. Mas tenho que dizer que muito dessa felicidade advém da maturidade, humildade e experiência que essas lutas trazem.

Não são poucos os momentos de tristeza, angústia e preocupação com os cuidados desta vida. Muitas também são as decepções. A questão é que essas coisas não são partilhadas em redes sociais porque, como já dito acima, isso não surtiria sequer um efeito benéfico. Há problemas que são compartilhados com amigos íntimos, que, no meu caso não enchem os dedos de uma mão (e isso não é uma reclamação). Há outros problemas que são compartilhados somente a nível conjugal. E certas turbulências da alma nem mesmo a nível conjugal, mas somente no quarto de oração e a sós com meu criador. As seguintes palavras de Jesus são um tesouro de valor inestimável para todo aquele que já experimentou sua realidade:

  “Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está no secreto. Então seu Pai, que vê no secreto, o recompensará.”
Mateus 6:6

  Incontáveis as vezes em que fiquei a sós com Deus em profunda angústia, tristeza e desânimo. Algumas delas sem conseguir expressar em palavras a dor que assolava a alma. Só para experimentar a doce providência de Deus ao trazer consolo a alma abatida e muitas vezes mudando o rumo de situações outrora insolúveis. Em outras ocasiões a situação não se alterava, porque não era na situação que o Senhor queria trabalhar, mas em mim, então a dificuldade e os males advindos dela produziram maturidade, experiência e resiliência que de outra forma seria impossível obter.

E isso traz alegria autêntica, palpável e duradoura, pois não é uma alegria que está fundamentada em coisas voláteis e transitórias, mas em Deus que é a rocha imutável e em quem não há sombra de variação. (Tiago 1:17).

Infelizmente há muitos que acham que Deus é só um placebo que muitos usam para enfrentar as dificuldades desse mundo impiedoso em que vivemos e então por incredulidade deixam de desfrutar do terno amor e cuidado do criador para com todo aquele que a Ele se achega. Mas cabe a mim e a todos os cristãos somente o comunicar as boas novas, pois o poder de convencimento pertence a Deus, como bem ilustrado nas palavras de Martinho Lutero:

“O nosso trabalho é levar o evangelho aos ouvidos, e Deus levará dos ouvidos para o coração”.

Minha oração é para que o Evangelho alcance a muitos corações para que os homens e mulheres que hoje estão com a alma aprisionada sejam libertos e experimentem a felicidade autêntica nesse mundo e no vindouro.

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